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Escalar no calcário é uma experiência única. Deve se comparar ao prazer que um rato deve sentir ao estar frente a um enorme queijo suíço. Não dá pra comer a pedra, mas mandar as vias com agarras em buracos, mono, bi, tri-dedos é algo simplesmente alucinante. O motivo da viagem era dar segmento aos trabalhos fotográficos para o Manual de Escaladas Selecionadas da Serra do Cipó e Região. Este guia será uma seleção de rotas nos mais importantes points da região de calcário próximos de Belo Horizonte. O mapeamento e levantamento técnico das rotas está sendo feito pelos experientes escaladores e montanhistas mineiros Daniel Ferreira Mariano, Eustáquio Macedo e Ralf Azevedo. Por minha conta ficou a edição do material e a realização de um DVD sobre o lugar... nada mal essa segunda parte, pois me possibilitaria justificar uns dias na região para captar as imagens e de quebra dar uma escalada. Abaixo, o diário desta rápida viagem, mas antes de mais nada, que deixar meu muito obrigado à todos que estão abaixo ou ajudaram de alguma forma a realização deste trabalho. Kamon! Eliseu Frechou, julho de 2007 D1...dia um
E a primeira parada foi o sítio do Rod em Lagoa Santa, a 60km de Belo Horizonte. Assim foi como da primeira vez que fui escalar nos calcários de Minas junto com os meninos e a D. Beth, conhecemos e ficamos acampados no sítio do Rod. O figura é lenda e referência na área. O sítio de sua família tem uma infra muito boa e lá você encontra informações e companhia para escalar na região. Nessa trip, encontramos nosso velho camarada com o pé quebrado, resultado de um tombo de mountain-bike. Rápida melhora procê meu fio!
O sítio do Rod fica logo na entrada da gruta da Lapinha e felizmente o fato de ser uma propriedade particular, livrou o local de ser fechado ao esporte.
No primeiro dia tive a ajuda da Fernanda Rocha que se dispôs a me mostrar algumas das últimas conquistas no sítio. Junto com um pessoal bacana: Cupim, Snakinho, e outros, pude captar uma série de imagens para o Guia.
D2...dia dois
Point de características únicas, a Lapinha concentra hoje mais de 200 rotas... muitas delas proibidas de escalar! Todavia existem alguns setores fora da área de fechamento que fazem parte do Parque Estadual do Sumidouro ou são propriedades particulares onde o fechamento imposto pela Prefeitura de Lagoa Santa não vale, e onde os escaladores podem praticar seu esporte (e religião). Por meio de uma lei que proíbe quem sempre trabalhou em prol do lugar a sequer poder hoje tocar nas paredes que protegeu, a Prefeitura de Lagoa Santa tornou a escalada na Lapinha uma atividade ilegal, sob a justificativa de se isentar dos acidentes que possam ocorrer na área - mas mantém a porta aberta para o turismo de massa, que destrói, picha, suja e agride o lugar. É uma vergonha como pensam os políticos desta cidade. Para poder mostrar um pouco deste lugar, coloquei aqui algumas imagens feitas antes de 2002, quando escalar ainda era uma atividade legal em Lagoa Santa.
Mas como nem tudo está perdido, fomos escalar em outros setores, longe das leis que proíbem o que não conhecem.
Nesse segundo dia de escalada, apareceram os velhos conhecidos Yan e Jean Ouriques, Alexandre Fêi, os veteranos Salim e Emerson Lampião e a galera de Sorocaba: Cris, Bruno e Márcio. Também conheci o Gustavo Baxter, fotógrafo de montanha de BH que fez excelentes imagens nesse dia.
A Lapinha é o lugar dos points calcários onde a pedra tem mais buracos. A água esculpiu nas paredes dezenas de buracos e fendas, formando agarras perfeitas em paredes negativas. Que escalador ousaria estragar tamanha beleza?
Os tons de cinza do calcário tornam-se azuis a medida que os raios do sol e a iluminação difusa da floresta mudam de lugar no decorrer do dia.
A Lapinha é um emaranhado de caminhos pelo meio de blocos. A cada passagem surge um salão, uma dolina... há uma sensação de descoberta fascinante ao simples andar nesse lugar, que mas se parece com um elo perdido no tempo.
D3...dia três
A Serra do Cipó é imensa. A parte mais visitada pelos escaladores é a porção conhecida como Morro da Pedreira, bem na entrada no Parque Nacional. O complexo é dividido em 4 grupos e vários setores.
Vias como Lamúrias de um viciado, Vagabundos nutridos, Ninhos, Sombras flutuantes, Heróis da resistência, Na calada da noite... se tornaram comuns no ouvido de escaladores de todo Brasil. Salve a serra do Cipó!
D4...dia quatro
A escalada no Cipó teve início quando na década de 70 os escaladores André Jack de MG e André Ilha do Rio de Janeiro, conquistaram a fissura Pôr-do-sol no grupo 1.
André Ilha visitou o lugar muitas vezes desde então e conquistou dezenas de rotas móveis por todo o complexo. Depois dele o lugar teve um outro boom, desta vez pela mão dos cariocas Luis Claudio Bitencourt (o Pita) e Luis Claudio Côrtes (o Ralf), que abriram os primeiros nonos e depois décimos graus da serra, atraindo a atenção de todo o Brasil para essas falésias.
D5...dia cinco
A Gruta do Baú é outra propriedade particular que controla a visita dos escaladores. Para entrar e escalar lá você precisa de um habeas corpus que deve ser conseguido via os escaladores mineiros que conhecem os donos da área. Nesse dia fui com o Ralf, Fernanda, Jean e Yan, mais o Xandão com o intuíto de escalar algumas rotas na Onda. O cansaço de vários dias na ativa pegou forte e estávamos todos bem cansados pra mandar as rotas mais fortes. Mesmo assim conseguimos fazer as imagens e foi um grande dia de escalada que finalizou esta trip.
O setor mais impressionante da Gruta do Baú é a Onda, onde está situada a rota O corpo ainda é pouco, 9b que foi aberta a quase 10 anos por Ralf Côrtes.
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